10/25/2005

Metamorfose frenética... nós somos!


Tudo o que me vêm, através dos meus sentidos; seja uma imagem, um som qualquer, uma conversa, uma palavra ou até mesmo a escuridão e o silêncio, transpassa o meu ser e transforma-se noutra coisa.

Para mim nada é conclusivo e definitivo: tudo pode ser reexplicado, redirigido, revisto – para tudo aquilo que sempre nos disseram ter um fim, há e haverá sempre uma nova perspectiva, resultando num novo começo: um recomeço.

Assim como tudo não é conclusivo e definitivo, a própria vida não o é: ela carrega em si a própria indefinição. Por isso, podemos sempre nos redescobrir e nos refazer em outro. Não há nada que possa parar essa metamorfose frenética, que somos nós.

10/22/2005

Desconstrução...


Pulei do ponto mais alto, pulei...
Mergulhei em mim - eu sou o centro!
Neste mergulho tive momentos de agonia,
uma certa falta de ar...
Vi quantos lugares desconhecidos possuo à mim mesma:
lugares que tenho medo de enxergar.
Vi-me criança, desamparada,
à mercê do acaso e da sorte.
Vi no meu rosto os olhos medrosos e um sorriso falho:
uma criança sem alegria.
Fugi... (mas como fugir de mim?)
Me deparei com outro rosto, mas ainda eu mesma:
um rosto jovem e decidido, até certo ponto frio
(mesmo sabendo que essa frieza era uma máscara
na luta pela sobrevivência!).
Corri... (mas como correr de mim?)
Neste momento, atravessei um corredor estreito,
tão estreito... não sei como passei por ele.
Do outro lado havia uma mulher, ainda jovem,
porém sozinha - completamente.
Vi nela a força de quem não se deixa vencer,
mesmo sabendo de que não há vencedor no jogo da vida!
Chorei... (mas como chorar por mim?)
De repente, encontrei-me com a ebulição do meu sangue,
jorrando vidas, me torturando e ao mesmo tempo,
tornando-me a mais bela...
Esqueci de mim: deixei meu centro, pari!
(desconstruí, como eu não sei, deste ponto me perdi de mim!).
Continuo neste mergulho profundo,
à procura de tudo o que fui à mim mesma...
Quero os meus medos, a minha solidão, a minha força,
a minha ebulição! Quero tudo!
Quero meu sangue jorrando, encontrar a mulher que se perdeu...
Só não quero fugir, correr, chorar!
Sou o acúmulo de todas quem fui, e não sei quem fui e quem sou!
Quero encontrar a saída do meu labirinto...
Pergunta: se não há vencedor no jogo da vida,
por que eu procuro a saída?

10/16/2005

Se eu, talvez se...


Da janela observo... o quê?
O quê faço eu ali?
Penso sobre a vida ou sobre vidas?
Quem seria eu hoje, se aquele namorico de mil anos atrás
fosse levado à sério, se aquele curso incompleto de alemão
tivesse sido concluído... Se aquele amigo não tivesse me
estendido à mão, no meu momento de desespero...
Quem seria eu hoje? Aonde estaria eu? Talvez não naquela janela,
fazendo "do pensar" nada de importante...
Como as folhas de uma árvore no outuno,
assim são os pensamentos que me rodeiam!
Quem seria eu hoje, se...?
Talvez outra...
Talvez ainda... eu mesma.

10/12/2005

Eu sou a FORÇA!


Eu corria adentro da densa selva. Meus cabelos eram negros e longos, naturalmente selvagens. Vestia apenas uma tanga feita de folhas secas e trançadas. No meu braço esquerdo, entre o cotovelo e o ombro, tinha uma tatuagem feita com pigmento natural: era um olho. Eu tinha três olhos e cinco armas: uma flecha, um estilingue, uma machadinha de pedra, uma faca e as minhas mãos. Eu não conhecia o medo, e por isso, sentia-me livre nesta selva, porque eu era parte dela. Sobreviver era a lei do mais forte, não necessariamente forte no físico, mas no instinto!

Todos os dias eu percorria a selva à procura de alimento e de prazer. O prazer da água, o prazer do cheiro, o prazer do tato. Porém, independente de onde eu estivesse, eu retornava sempre para a Grande-Árvore.

A Grande-Árvore era a minha fonte de energia, a minha proteção, a minha mantenedora. Eu a abraçava e a cheirava, sentindo o melhor dela. Subia até seu topo e de lá avistava um outro mundo, um imenso lago verde e o céu. E lá de cima o céu se tornava escuro, eu via o espaço estrelar e todos os deuses, que estavam acima de tudo e de todos os seres daqui. Sempre adormecia no alto da Grande-Árvore, certa e segura de que nada aconteceria a mim, porque a Grande-Árvore tinha em mim sua filha e os deuses também. Quando há o zunido dos insetos, a agitação dos pássaros começam, é porque o Rei-Sol está chegando. Era sinal de acordar! Descia rapidamente e enquanto o céu-alaranjava anunciando um novo dia, eu começava a dançar! Dançava em torno da Grande-Árvore para o Rei-Sol! A minha dança louvava mais um dia de vida! E quando todos se silenciavam, e só ouvíamos o som das águas correndo, é porque ele já estava lá! Então eu sorria para todos e para mim, porque eu era feliz, eu tinha tudo o que precisava, inclusive a liberdade! Eu dava um grito, desejando ao Rei-Sol boas-vindas e ia caçar!

A selva nunca representara perigo a mim até então... Foi quando sentei-me numa pedra, às margens de uma cachoeira, que ouvi uma voz. Nunca havia ouvido uma voz, somente sons! Essa voz falou bem ao meu ouvido: “Eu sou o seu guia. Vim para avisá-la que hoje será um dia diferente. Você conhecerá a sua inimiga mortal, aquela que quer a sua selva, a sua Grande-Árvore, as suas armas! Você terá hoje um duelo em defesa de tudo aquilo que te pertence! Esteja preparada!”.

Mantive-me quieta, imóvel e meus olhos se fecharam. Através do meu olfato, pude sentir que não estava só. Ela já estava ali, atrás de mim. Podia ouvir agora seus movimentos de um lado para o outro, nervosos, como um animal felino e traiçoeiro, preparando-se para à caça.

Sob os meus olhos, o meu espírito estava atento. Ouvi a voz novamente daquele que se dizia meu guia “Ela que veio a ti, em busca do seu próprio egoísmo. Ela não te quer aqui, não quer dividir nada. Liberte o teu espírito e dance ao redor dela. Tu tens uma arma que ainda desconheces, mas que faz parte de ti, é a tua força. Faça a dança da guerra, porque o teu nome é Força!”.

Foi então que me vi sentada de olhos fechados ali naquela pedra, e pela primeira vez, avistei aquela predadora atrás de mim. Era um bicho em forma de mulher. Sua pele era branca, seus cabelos eram brancos e os seus olhos eram tão claros e transparentes, que não tinham fundo. Pessoas que não têm fundo nos olhos não são confiáveis! Para ela eu era a presa, a caça! O meu corpo já sentia as suas narinas quentes sobre ele, mas o meu espírito já dançava ao seu redor invocando todos os deuses que me deram a força.

Ela não me via, mas eu tinha a visão de tudo o que estava acontecendo. E no momento exato, meus olhos se abriram, e como um animal quadrúpede, me virei e pulei sobre ela, com toda a força que estava em mim, e no impacto de um único golpe, preciso e mortal, a destrui. Destrui a sua forma traiçoeira e arrogante contra mim. Foi um ato sem dúvidas ou fraquezas: eu a matei, porque com o inimigo não há escolhas: é matar ou morrer!

Meu guia disse: “Desapareça com o corpo, para que esse espírito ruim se vá com ele e que não vague ainda a procura de ti pela selva!”. Então amarrei um cipó entre seus pés e mãos, e a arrastei até um precipício. De lá, a empurrei para um lugar escuro e desconhecido, onde nunca mais encontraria o caminho de volta. O seu espírito foi-se também! Eu estava livre!

Era hora de retornar...retornar a Grande-Árvore. Corri em direção da minha fonte de energia! Não compreendia o porquê temos inimigos, à quem nunca fizemos nada, mas que mesmo assim, surgem do nada e querem tudo o que nos pertence!

Foi então que vi meu guia, pela primeira vez. Ele era feito de luz, muita luz! Ele sorria satisfeito! A satisfação dele era a mesma minha! Eu também sorria! Comecei a dançar: dançava para ele, para mim, para os deuses, para a Grande-Árvore!

A dança da vitória: vitória pela vida, que ainda pulsa em mim!

10/06/2005

Meu poema preferido...



"Quando escolhi a selva,
para aprender a ser,
folha por folha,
entendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz,
barro profundo,
terra calada,
noite cristalina,
e pouco a pouco mais,
toda a selva".

Pablo Neruda

10/03/2005

Mundo: onde mesmo?


Venho do trópico, do calor, do sol!

Sempre achei que a liberdade é ter espaço para correr,
é poder usar pouca roupa ou nenhuma.

É poder molhar o corpo no mar e deixar secar ao vento,
e continuar sorrindo, livre!

Sentia tristeza pelas pessoas que nasceram onde o frio
é rigoroso, limitados no espaço do calor fabricado para
sobreviver. Onde as pessoas passam a ver o mundo através
das janelas fechadas...

Só mais tarde compreendi que o mundo não está do lado de fora!