8/30/2005

Eu suspeito...


Eu suspeito do olhar,
dos gestos, do sorriso.

Eu suspeito das palavras articuladas
na boca, da intensão, do amor-ao-próximo.

Eu suspeito do fácil, do muito fácil,
e daquele quem vende um terreno no céu!

Eu suspeito do “normal”, muito mais que do
louco, do psicótico anônimo (muitas vezes,
nem sabemos e somos).

Eu suspeito da bondade e da caridade,
daquilo que normalmente não se divide
e não se dá.

Eu suspeito do abraço, do calor-humano
gratuito (porque nada é de graça!).

Eu suspeito sim, dos meus sonhos à noite,
de quem se aproxima, da lágrima que rola
(se não é a minha!)

Eu suspeito do amigo-do-amigo,
do falso interesse em mim.

Eu suspeito do dinheiro, do pobre e do rico,
da honestidade e da lei.

Eu suspeito da justiça, do juiz, do réu e
da defesa, dos advogados do diabo!

Eu suspeito dos meus pensamentos,
que observam calados,
tudo que pode ser susceptível de suspeitas.

Eu suspeito do ser-humano,
justamente por "ser-hu-ma-no"
e toda a sua complexidade.

8/26/2005

Ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão!


"Folha de S.Paulo - 26/08/2005 - 10h58
Ladrão tenta roubar carro de assaltantes no Rio.

Dois ladrões que estavam em um Palio roubado sofreram uma tentativa de assalto no final da manhã de ontem, em Santa Teresa (centro do Rio de Janeiro). Eles foram presos depois de o veículo em que estavam colidir com o carro de um policial.

A dupla guiava o carro roubado quando foi interceptada por outro assaltante armado, a pé. Houve troca de tiros, segundo a polícia do Rio. A dupla de ladrões acelerou o Palio e acabou batendo no carro em que estava um policial.

Após o acidente, os dois tentaram entrar em um ônibus. O veículo foi cercado e os criminosos, presos. Um dos ladrões tinha 29 anos. O outro tinha 21. Eles foram identificados e presos em seguida. Os dois tinham passagem pela polícia e foram encaminhados para a carceragem da Polinter, na zona portuária do Rio.

O outro ladrão, que estava a pé, conseguiu fugir. A Folha não conseguiu falar com os suspeitos".

Link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u112404.shtml

8/25/2005

Eu sou um Cavalo!



What Is Your Animal Personality?
IMPORTANT: Answer honestly, and we'll see how well I can match up to your personality. If you dont think your results are accurate, you most likely know very little about that animal. And you are just overlooking something special that you have in common with it. You may be surprised. But remember, NO result will match your personality 100%. Only certain qualities about you that stand out will help determine what kind of animal your personality most resembles.

http://quizilla.com/users/EmrysWolf/quizzes/What%20Is%20Your%20Animal%20Personality%3F/

8/21/2005

Meus "Peitos" e "Eu"...


Sempre fui envergonhada! Quando criança tinha vergonha dos desconhecidos, e sempre que alguém vinha na minha direção, eu me escondia atrás da bunda da minha mãe ou da minha avó.

Na puberdade, tinha vergonha dos meninos! Na escola, ficava vermelha e encabulada toda vez que algum deles a mim se dirigia.

Já crescida, moça-mulher, tornei-me mais interessada nos rapazes, entretanto eles não tinham interesse na minha pessoa, mas nos meus peitos. É que eles cresceram junto comigo! Me tornei uma mulher de “peito”!

Certa vez um rapaz, desconhecido a mim até hoje, num shopping-center, flertou com os meus peitos, se apresentou aos meus peitos, os cumprimentou sinceramente, deu seu telefone para os meus peitos e se despediu dos meus peitos, finalmente (e para sua tristeza!). A cor dos meus olhos, com certeza ele não se lembra, mas dos meus peitos...

Os meus peitos chegaram a tal ponto, que tinham uma vida independente da minha! Quando saíamos, eu e os meus peitos, tínhamos sérias discussões. A nossa relação, com o tempo, tornou-se insuportável!

Meus peitos me deram tanto trabalho e tantas decepções, quase que como um filho não-desejado! Resolvi nesta época mesmo, me livrar deles!

Meu cirurgião, momentos antes da operação, desenhava nos meus peitos a sua redução ( e eu queria reduzir o trabalho que eles me davam!). “Você tem certeza?” perguntou o médico. “Olha que se você fosse para os Estados Unidos da América, você teria muitos pretendentes!”. Mal sabia ele que pretendentes para os meus peitos é que não faltavam, em qualquer lugar do mundo! Eu é quem não tinha nenhum! “Você tem certeza?” perguntou mais uma vez. Convicta e decidida, disse “Sim!” ao médico (e não aos meus grandes peitos!). Pedi somente que não os deixassem muito pequenos, porque não era a minha natureza, porém próximo da minha forma física. No total foram dois quilos, um de cada lado! Ficaram “médios” e lindos!

Senti então, que alguma coisa havia mudado entre eu e os meus peitos, para melhor (ficamos mais cúmplices)! Agora sim, tínhamos sido “feitos” um para o outro.

Desde então, meu olhar e o meu sorriso vêm primeiro aos meus pretendentes (agora os tenho!), os meus peitos só depois!

Liberdade?!?


Fechei meus olhos...senti o tocar de outras mãos nas minhas. Imaginei um Homem-Príncipe. Então ele veio mais perto e me abraçou. Começamos a dançar num jardim enorme! Rodopiava, segura em seus braços, tão fortes...

Distanciei-me de mim para ver mais de perto!

Então me vi no vestido mais lindo da noite, cheia de jóias, cheia de brilho! Vi como eu sorria verdadeiramente, tão feliz de ser tão amada! Percebi que era uma festa importante...não?!? Era o nosso casamento! No meio da festa, nos retiramos. Então ele me mostrou um Castelo digno de uma rainha e me disse: “Aqui será o seu lar!”.

Na entrada, pegou-me em seu colo e carregou-me até o nosso quarto, onde tivemos a nossa noite de núpcias, a nossa noite de amor. Quando acordei, tão feliz, no dia seguinte, decidi dar uma volta nos arredores, tomar um ar fresco. Era tudo tão lindo dentro do Castelo, tanta riqueza...

Fui até a porta principal, tentei abri-la, mas estava trancada. Então, fui até a outra porta, mais próxima, também estava trancada. E tentei todas as portas que davam para fora do Castelo... trancadas! Tentei todas as janelas... trancadas! Comecei a correr pelos corredores, desesperadamente a gritar por socorro, mas ninguém era capaz de me ouvir.

Não havia saída! Eu estava confinada!

Só mais tarde compreendi que a Princesa era eu, e que meu maior tesouro eu havia perdido: a liberdade.

8/19/2005

A Felicidade


Sentei-me exausta naquele banco de jardim. O jardim estava tão verde e florido! Havia também um chafariz, que dava ao local mais harmonia com som das águas. Algumas pessoas passeavam por ali. Nesse cenário, eu era quase um banco, imperceptível perante tanta beleza. Era tudo tão tranqüilo, que eu conseguia ouvir o som das águas e os batimentos do meu coração. Tudo ali era vida, inclusive eu. De repente, um beija-flor surgiu! Voava eletricamente de uma flor à outra. Parecia tão feliz! A natureza o presenteava com cores e talvez, sabores diferentes. Ele era um beija-flor feliz! Se eu pudesse nascer de novo, se eu pudesse escolher outra forma de vida, certamente eu seria um beija-flor!

Ouvia ainda os batimentos do meu coração... Isso me fez refletir sobre quem eu era: tudo em mim funcionava como uma orquestra! O coração batia, o sangue corria e os meus pensamentos também voavam eletricamente, como aquele beija-flor!

Lembrei-me então da minha infância sofrida, das escolhas equivocadas, das pessoas as quais nunca mereceram a minha confiança (nem sei porque lembrei delas, pois não merecem nem meus pensamentos de lembrá-las!). Muitos outros fatos passados vieram como “flashes” à mente!

No entanto, ali naquele exato momento, naquele jardim, eu era outra pessoa e não as tantas outras que um dia já fui! É como se todos os dias da minha vida eu acordasse uma outra pessoa. Tudo o que eu havia vivido era e não era eu! O passado então, não era necessariamente o meu, porque eu era outra todos os dias! Eu também fazia parte da natureza em transformação! Toda essa reflexão, nesse banco desse jardim, também ficarão para trás. Será somente um contexto tranqüilo, de um curto espaço de tempo, de quem sou eu hoje!

Aquele beija-flor ainda estava ali, como eu. Ele estava feliz por estar ali...e eu? Acho que eu também estava feliz, mas a certeza da felicidade a gente só há tem, quando já não há tem mais.

Felicidade? Pouca importa a felicidade se todos os dias quando acordo, sou outra pessoa. Se não fui feliz ontem, sendo quem eu era, talvez possa ser eu feliz hoje, sendo quem eu sou; ou talvez amanhã sendo a outra pessoa que ainda serei! Eu sou como a natureza em transformação!

A felicidade em si não é planejada (nem deve, nem pode!). Ela se esconde em momentos inesperados (como nesse jardim), se esconde no amanhã e nos outros muitos “eus” que eu desconheço ainda em mim!

A Árvore


Havia uma única árvore, somente uma, que podia ser vista lá de longe, pois era robusta e imponente, feito um tenente. Todos os dias eu ia lá... Conversávamos longamente!

Certa vez, perguntei a ela porque era tão só (afinal não havia nenhuma outra árvore ao seu redor). Foi então que ela me contou, que há muito tempo atrás, lá houveram homens, muitos homens...que acreditavam na força do mercado livre, tinham a ilusão do poder e do sucesso, e muita ambição à modernidade. Esses homens destruíram todas as formas de vida ao seu redor e a transformaram numa árvore solitária, talvez a última.

Ainda hoje, ela procura no silêncio, a compreensão sobre os homens, saber do que a nossa mente é capaz.

Se ela pudesse voltar naqueles tempos, me disse que se pudesse dizer aos homens alguma coisa, ela diria que não há nada no mundo, até mesmo todo o dinheiro do mundo que possa nos dar o que a gente nunca teve, porque aquilo que nos falta; o quê a vida, por alguma razão não nos deu, aquilo o quê a gente nunca teve, estará sempre faltando!

8/18/2005

Estrela-do-Mar


Existe uma estória de não sei quando e nem de quem, que conta sobre um pequeno grão de areia e uma estrela do céu, que de tanto se olharem, se apaixonaram.

Ninguém sabe até hoje se eles conseguiram concretizar esse amor impossível, somente que no oceano existe uma outra estrela: a estrela-do-mar!

A estrela-do-mar talvez seja fruto desse amor, sem testemunhas. Amores impossíveis misteriosamente acontecem, procriam e desaparecem.

Eu também fui fruto de um amor impossível...

Só mais tarde compreendi, que eu também sou uma estrela-do-mar!

Re...


Tudo aquilo que sempre nos disseram ter um fim, sob uma nova perspectiva, pode ser reexplicado, redirigido, revisto; resultando sempre num novo começo: num recomeço.

Acredito que, assim como tudo não é conclusivo e definitivo, a própria vida não o é: ela carrega em si a própria indefinição. Por isso, podemos e devemos, sempre, nos redescobrir e nos refazer em outro.

8/17/2005

Indignação...











Indignação:
contra os hábitos (tão americanos),
os filmes (tão americanos),
os lanches (tão americanos)...
... aqui no meu país!
Indignação:
contra a falta
de questionamento
da nossa população!
Indignação:
contra os fatos existentes,
e às vezes, inexistentes
na nossa eduçação.
Indignação:
contra a passividade,
a concordância,
a ignorância,
a aceitação.
Indignação:
contra a fome,
a morada a céu aberto,
a vida tão medida,
a sobrevivência,
a total pobreza,
a falta de participação.
Indignação:
contra os políticos
tão demagogos,
o engano,
o poder e corrupção,
o oportunismo
sempre em época de eleição.
Indignação:
contra a terra,
o monopólio.
A gota de sangue
que escorre na luta,
no sonho da divisão.
A verdade se esconde
atrás de um canal
de televisão!
Falta de eletricidade?
Talvez fosse uma solução.
Indignação?
É... falta muita indignação!

Sombras...


Eu vejo as sombras,
os contornos,
as linhas definidas,
muitas vezes, daquilo que não posso ver.
As sombras têm vida.
Movem-se lentamente.
Na verdade, a luz conduz as sombras
na penumbra,
no espaço sempre disponível:
às sombras.
Há um cenário concretizado, só de sombras.
Há um outro mundo: só de sombras.
Esse mundo das sombras não é sombrio: só é tímido.
Vive atrás de tudo.
É um mundo de luz, só não quer ser reconhecido;
porque é tímido.

Deslocamento


Ruas e ruas de casebres amontoados.
Pessoas acumuladas num pequeno espaço reduzido.
Comem juntas....
Dormem juntas...
Vivem tumultuadamente juntas.
Ignoradas e ignorantes dos seus direitos de ser:
um indivíduo
(individualidade).
Individual
(uma única identidade).
Ser um,
numa unidade
(integridade).

Vítima


Eu sou a vítima de um assalto:
bandido!
Eu sou a vítima de uma bala perdida...
(...que me encontrou).
Eu sou a vítima de um indivíduo,
um elemento,
desconhecido...
(...sem fundamento).
Eu sou a vítima de três disparos:
do tiroteio,
do justiceiro,
da reação.
Eu sou a vítima do trombadinha,
do militar,
do traficante
e do segurança particular.
Eu sou a vítima do acaso,
da violência,
da ousadia,
do despropósito,
das diferenças,
da repressão (tão democrática),
do desgoverno.
Eu sou a vítima desarmada,
mas fui amada.
Deixo hoje o amanhã,
e a saudade dos amigos e familiares.
Eu fui a vítima!

No ar, Condicionados!


Somos quem somos
nesse mundão aqui.
Comendo a TV e
pensando dinheiro.
Sonhando sentado
com um final feliz.
No ar, condicionados!

Somos quem somos
nesse mundão aqui.
Telenovela revela:
a bunda quadrada,
as portas fechadas,
a jaula decorada e
a família calada.
No ar, condicionados!

Somos quem somos
nesse mundão aqui.
Coçando o saco e
criticando quem faz.
Bebendo e comendo
comida enlatada.
Assistindo o filme
da semana passada.
No ar, condicionados!

Somos quem somos
nesse mundão aqui.
Vestindo o que ditam.
Falando o que dizem.
Seguindo a lei da televisão.
Deitado na cama e
a barriga crescendo.
Controlando o controle,
da vida controlada pelo controle.
No ar, condicionados!

Somos quem somos
nesse mundão aqui.
Drogados da imagem e
penalizados pelas notícias.
Passivos da opinião formada
e não refletida.
Réus e culpados
das lentes da audiência:
subjulgados e
alienados.

O lixo de ouro da cultura inútil.
No ar, condicionados!

Somos quem somos
nesse mundão aqui:
bonecos fantoches,
aprisionados,
aculturados,
manipulados,
teleguiados...

No ar, condicionados!!!

Destino Nordestino


Nordestino.
Sem destino.
Farinha.
Seca.
Sol.
Desatino.
Família unida.
Sem comida.
A esperar pelo tempo,
que vai passar...
Só horizontes,
sem fantasias...
Naquele olhar que já não vê
tanta tristeza,
quanta incerteza...
Terra e areia,
chão de poeira.
Sonhos perdidos,
num sonho só:
poder plantar
para colher.
Ouvir “Painhô!”
e poder dar o de comer.
Nem Padre Cícero,
Graciliano,
viram o humano,
ser desumano.
Centros urbanos?
“Então eu vou,
tentar viver.
Quem sabe lá,
enriquecer”.
Decepção...
“Esteja certo,
se lá chover...
Voltar eu hei,
Ao meu sertão”.

8/14/2005

Eu sou a pedra!


Talvez eu já esteja velha demais, cansada demais...

Desconheço-me, e posso ser quão dura uma pedra é.
Todos os sentimentos desaparecem na dureza da minha alma!

O meu limite é a minha vontade! A minha vontade é o meu querer!
O meu querer, egoísta, está acima da vontade e do querer de qualquer um.

Sou a própria pedra!

E faço uso de um ditado (talvez chinês), que traduz o meu eu-pedra:

“Se um ovo cai numa pedra, pobre ovo! Se uma pedra cai num ovo, pobre ovo!”.

Eu sou a pedra!

O tempo.


As roupas balançam no varal... Todos os dias num mesmo movimento, na mesmice... Todos os dias são iguais e monótonos no varal!

Tempo!?! Então lembrei de quando o tempo me sobrava, quando as noites e os dias eram longos, intermináveis, mas não havia um amor. As noites eram frias e tristes, solitárias...

Até que então esse amor surgiu! Dividiu comigo a cama, o corpo, as manhãs.E trouxe-me vida, sorrisos e abraços, paixão e calor.

O tempo? Passou a ser compartilhado, lado-a-lado, tempo e amor. Percebi então que faltava o preenchimento do espaço entre o tempo e o amor, foi assim que vieram os filhos... Os filhos trouxeram mais vida, mais movimento, mais sentido! Fizeram de cada dia um novo dia, e transformaram o sentido do tempo e do amor.

Hoje questiono o tempo que me falta...

Talvez o tempo livre faça da existência um mero vazio, para onde os pensamentos viajam desnecessariamente, onde perde-se tempo...ou melhor, o tempo se perde.

As roupas continuam balançando no varal, num mesmo movimento, na mesmice de sempre!

Mas a minha vida não é mais a mesma, meu tempo não é mais o mesmo...Já não tenho somente um amor, tenho vários!

Compreendi então que o tempo por si mesmo é inerte, aquele que todos os dias balança as roupas no varal. A vida se transforma não por causa do tempo, mas pelos nossos desejos de mudança, para dar sentido à existência, a continuidade e a coexistência.

Foto: "Judeus não são benvidos aqui!".


Aqui é tão escuro,
tão quieto,
tão sóbrio e vazio.

Há quem possa me ouvir?
Há quem possa responder?
O que faz desse lugar
tão escuro e tão vazio?

Será que os corações-humanos
aqui não pulsam?
Aqui é tão escuro, tão obscuro…
…tão indiferente!

Será que os seres daqui perderam-
se no tempo, na evolução humana?
Evolução? Não aqui!

Vejo sim, através da escuridão,
pessoas semi-putrefatas,
fedem merda,
pensam merda…
…são quase merda.

O que faço eu nessa escuridão?
Deixem-me ir,
eu não sou desse lugar!

Poder!


Tenho o poder das palavras certas,
nos momentos certos, na sua direção,
entretanto, calo-me.

Tenho o poder de ler seus pensamentos,
o seu olhar, a sua expressão,
entretanto, calo-me.

Tenho o poder de saber das suas intenções,
dos seus gestos, do que você planeja,
entretanto, calo-me.

Tenho o poder de conhecer todos os seus
medos, suas feridas, suas frustrações,
entretanto, calo-me.

Tenho o poder de ser-humano, assim,
como você o é. Por isso, quero
compreendê-lo, antes de julgá-lo.
Contenho as palavras fáceis que
vêm a minha boca,
calo-me.

Fico entre os meus pensamentos
conclusivos sobre a sua pessoa
e quem é você de fato.

Culpa


Que dor é essa que carrego comigo,
tão profunda, tão sentida e tão dura?

Que culpa é essa que carrego
comigo, que envelhece comigo?

Já tardam os anos que ainda me
vêm, e comigo já estão todas as
lembranças.

Sei que o quê sou, já sou.
Sei que errei e que alguns erros
jamais poderão ser corrigidos,
porque o tempo é o Senhor
da consciência que perdi.

Consciência


Eu navego na existência
de um ser paralelo,
que convive comigo,
que discute comigo,
que está presente em mim
mesmo quando tenho o desejo
de estar só.

De longos pensamentos perdidos
nas horas da noite,
faz-me cansada no dia seguinte.

Na realidade há um desajuste
entre mim e esse ser paralelo.
Estamos juntos por caminhos
opostos: quando penso no amanhã,
ele me lembra do ontem e
de tudo o que passou.

Esse ser paralelo é a minha
própria consciência.

Olhar...


As palavras escorregam nesse
papel como os meus pensamentos.

Não sou tão velha, mas há uma
longa história, feita desse único
caminho, que é só meu.

Acho que a vida escorrega nesse
papel, a minha.

E não há uma frase sem vírgula,
um parágrafo sem ponto.
Não há um dia sem um sonho!

Não há nada que não seja feito
do meu olhar. Até você, quem eu
nunca vi, é feito do meu olhar.

Aqui estou...


Aqui estou em pedaços,
aqui estou transparente.

Aqui estou inteira,
feita de pedaços.

Aqui desconheço-me
completamente.